domingo, 14 de dezembro de 2008
Das neue Haus
Impressiona-me o facto de os edifícios construídos pela Bauhaus e seus sucessores – generalizando, aquilo a que se chamou o Movimento Moderno ou o International Style – ainda hoje me parecerem extremamente actuais, apesar de ter já passado quase um século desde que tudo começou.
A Bauhaus, que tem sido acusada por alguns de se ter enganado, de ter profetizado algo que se viu como utópico e impossível mas que acabou fracassado, não se terá a meu ver enganado tanto assim. Apesar de não ter percebido muito bem aquilo que tinha descoberto, dirigindo o mundo da Arquitectura com premissas que se tornaram erros disciplinares graves. Pois aquilo que a Bauhaus julgou ter descoberto – um novo paradigma para a disciplina – era na verdade um não menos importante paradigma. Não de âmbito disciplinar mas técnico-funcional. Aquilo que se anunciava não era verdadeiramente uma revolução disciplinar (onde a bem dizer tudo se manteve segundo o velho triângulo de Vitrúvio) mas sim uma revolução tecnológica que por sua vez originou uma revolução funcional. A transformação tecnológica vai ter implicações na função e modos de vida tendo ambos influencia na concepção dos edifícios. Esta revolução tecnológica (firmitas) e funcional (utilitas) estava a solicitar uma terceira revolução, desta vez estética (venustas). E este foi o papel da Bauhaus como simultaneamente profeta e impulsionador da maior transformação arquitectónica do século XX, e que para mim é talvez uma das maiores da História da Arquitectura. Penso que a descoberta era demasiado grande para que se conseguisse imediatamente ter noção do que se estava a descobrir. Julgando-se perante um paradigma onde a Arquitectura deixa de ser causa para ser consequência – e portanto unicamente o resultado daquilo que a função determina sem qualquer pré-imposição estética ou conceptual – acabou por se construir edifícios onde usando o álibi da função, na verdade se perseguiu uma estética. Ainda que seja uma estética nova – uma "estética funcional". Isto é, pensando que a casa também podia ser uma máquina, construem-se casas que parecem máquinas, mas que na verdade não o são. Porque as casas – aparte todas as transformações que sofreram ao longo do desenvolvimento da Humanidade – continuam a ser casas. E provavelmente sempre o serão. É Corbusier quem leva este paradoxo ao seu maior extremo.
Percebemos hoje que não houve realmente uma alteração daquilo que é a Arquitectura, e que a função não necessita de ganhar qualquer tipo de prevalência sobre as outras partes que a constituem. Pensando trazer todo um novo paradigma de Arquitectura, o Estilo Internacional trouxe na verdade uma importante revolução, sem dúvida. Mas essencialmente uma revolução estética. E não uma interpretação estética das outras transformações mas uma verdadeira revolução. Uma linguagem totalmente nova. De tal forma inovadora que ainda hoje parece que nesse campo já não há nada a inventar. E que para muita gente é ainda de difícil aceitação por ser demasiado moderna. Parece-me que este seu carácter revolucionário levará a tardar ainda bastante tempo até que esta seja realmente assimilada.
Foto: A Bauhaus de Dessau – varandas do edifício de apartamentos dos estudantes
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